quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Energia solar deve ter 2017 com aquisições e 1º gigawatt

O país alcançará neste ano a marca de 1 gigawatt em capacidade instalada em usinas fotovoltaicas, patamar registrado em apenas pouco mais de 20 países

São Paulo – O ano de 2017 deverá registrar uma série de movimentações no setor de energia solar no Brasil, com várias usinas contratadas nos últimos anos entrando em operação e também com diversos empreendimentos trocando de mãos, por meio de aquisições, disse à Reuters um executivo do setor.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Rodrigo Sauaia, o país alcançará neste ano a marca de 1 gigawatt em capacidade instalada em usinas fotovoltaicas, patamar registrado em apenas pouco mais de 20 países.
O sucesso, no entanto, poderia ser ainda maior, uma vez que leilões de energia solar realizados pelo país desde 2014 previam quase 2 gigawatts em operação até agosto de 2017.
A comemoração também poderia se dar em um momento melhor, uma vez que os investidores do setor ainda digerem o cancelamento, nos últimos dias de 2016, de um leilão que contrataria novas usinas eólicas e solares.
O governo disse que a decisão foi motivada pela queda da demanda por eletricidade causada pela crise econômica.
“Vem aí um desafio grande que a gente ainda tem no setor, porque apesar desse começo positivo, tivemos um tropeço importante com o cancelamento do leilão… foi um golpe duro, porque o setor tem que ter previsibilidade da demanda”, disse Sauaia, que está à frente da associação que representa a indústria de equipamentos e investidores do setor.
Segundo ele, empresas associadas à entidade haviam revelado a intenção de entrar no certame com cerca de 5 gigawatts em projetos.
Mas ao mesmo tempo em que há o forte interesse por investimentos no setor, um grupo de empresas negocia com o governo para cancelar projetos já contratados no primeiro leilão para energia solar, em 2014.
“Ocorreu uma mudança brusca e imprevisível no cenário macroeconômico brasileiro que afetou diretamente esses projetos, e é difícil você precificar. Uma turbulência econômica e política… por conta disso os empreendedores estão em diálogo direto com o governo, buscando um caminho, uma solução”, disse.
Por outro lado, a Absolar espera ver neste ano a entrega dos parques solares contratados em um leilão realizado em agosto de 2015, que ofereceu preços maiores e previa início da operação das usinas para agosto deste ano.
“A situação deles já é mais tranquila. Por conta disso, a gente vê que um número importante desses projetos vai começar a trocar de mãos… a gente vê alguns grandes grupos internacionais de olho nesses projetos”, afirmou Sauaia.
Apesar do sol abundante, o Brasil possui hoje apenas 0,02 por cento de geração fotovoltaica em sua matriz elétrica, número que chegaria a 2 por cento se estivessem prontas todas usinas já contratadas nas licitações.
Para o futuro, além do crescimento por meio das grandes usinas, o dirigente da Absolar destaca o potencial do Brasil para a instalação de placas solares em telhados, uma modalidade que viu o número de adeptos dispararem, com alta de mais de 300 por cento em 2016.

Indústria no início

Ao tempo em que promoveu os leilões para contratar usinas solares, o Brasil incentivou a construção de fábricas de equipamentos no país, por meio de um programa que garante financiamentos atrativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os projetos com determinado nível de conteúdo local.
A iniciativa atraiu fabricantes de equipamentos como seguidores solares (“trackers”, que fazem as placas acompanharem a movimentação do sol ao longo do dia) e inversores, mas até o momento apenas um grande fabricante internacional de módulos fotovoltaicos está em operação no país, a Canadian Solar.
“Dentro da Absolar, contamos com pelo menos quatro fabricantes que pretendem viabilizar produção de módulos fotovoltaicos no Brasil. No entanto, esses, e mesmo os fabricantes que anunciaram fábrica ano passado, foram todos surpreendidos com o cancelamento do leilão, e isso acaba colocando isso em risco”, apontou Sauaia, doutor em engenharia de materiais com foco em geração fotovoltaica, que foi pesquisador em energia solar na Alemanha e na Suíça.
Sauaia, que antes de atuar na Absolar foi assessor técnico do Greenpeace, além de ter participado de grupo dedicado ao assunto na Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse que para atrair os fabricantes é importante também reduzir impostos, o que poderia ser feito com a inclusão de equipamentos solares no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (PADIS), um conjunto de incentivos fiscais federais.
Em entrevista recente à Reuters, um executivo da Canadian Solar disse que os painéis da empresa no Brasil saem até 40 por cento mais caros que a importação de equipamentos da China, principalmente devido aos impostos.
“A realidade tributária que o setor está enfrentando criou barreiras que dificultaram o desenvolvimento na velocidade que havia sido programada”, afirmou o dirigente da Absolar.
Ele também confirmou que a associação negocia com o BNDES uma mudança no programa de conteúdo local do setor, que prevê um aumento gradativo das exigências de conteúdo local em 2018 e em 2020, conforme antecipado pela Reuters na última semana.
“Precisaria de algumas adaptações no cronograma e também no conteúdo (local exigido)”, apontou.

Enel prevê ativar usina solar na Bahia nas próximas semanas

Usina de Ituverava deverá receber investimentos totais de cerca de 1,2 bilhão de reais, ou 400 milhões de dólares

São Paulo – A elétrica italiana Enel Green Power prevê iniciar a produção em uma enorme usina solar em construção na Bahia “em poucas semanas”, disse nesta sexta-feira o presidente da empresa, Francesco Venturini, em uma postagem em uma rede social.
A usina de Ituverava deverá receber investimentos totais de cerca de 1,2 bilhão de reais, ou 400 milhões de dólares, segundo informações da companhia.
“A primeira energização desse projeto fotovoltaico de 254 megawatts está programada para daqui a poucas semanas… temos muito mais a construir no Brasil neste ano”, disse Venturini, em sua página no Linkedin, onde publicou também uma foto das obras da unidade.
Além de Ituverava, a Enel constrói atualmente uma usina solar ainda maior no Brasil, o complexo Nova Olinda, no Piauí, que terá 292 megawatts em capacidade e será o maior da América Latina, segundo a empresa.
O investimento neste segundo projeto está estimado em 300 milhões de dólares, ou quase 1 bilhão de reais.
Em janeiro, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) previa o início da operação de Ituverava para maio deste ano, e da usina Nova Olinda para julho.